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Tarifa Social da Água: ato de generosidade ou pré-campanha eleitoral?

Não há nada como umas eleições à porta para que as/os presidentes de câmara demonstrem a sua "generosidade" para com os cidadãos. Olhemos para a autarquia de Matosinhos na sua mais recente resolução de aplicar a tarifa social da água no concelho. Com efeito, é indiscutível a importância dessa decisão para muitas famílias e é, também, incontestável a luta travada pelo Bloco de Esquerda, desde o início do mandato, para que essa aplicação fosse uma realidade, mas sempre sem sucesso… até agora. Foram necessários três longos anos de reivindicações, apelos em plenário, alertas em reuniões privadas e públicas para que, finalmente, se procedesse à implementação dessa tarifa social à semelhança do que já acontece noutros concelhos do país.

Em 2018, o Bloco de Esquerda levou o assunto, pela primeira vez, à Assembleia Municipal numa moção que foi aprovada por maioria e que, incompreensivelmente, contou com os votos contra do Partido Socialista, incluindo o veto dos quatro presidentes das Uniões de Freguesia. De lá para cá, as desculpas apresentadas pela presidente da autarquia foram sempre muitas, mas muito pouco credíveis. De entre as mais recorrentes, destacou-se a impossibilidade da sua aplicação devido ao acordo pré-estabelecido com a empresa privada Indaqua. Mais uma opção política da governação PS em Matosinhos que, infelizmente, em nada salvaguarda o interesse dos munícipes. Muito pelo contrário. Basta uma análise atenta das faturas mensais para se perceber que o custo da água praticado pela Indaqua continua a ser um dos mais elevados do país.

Com o aparecimento da pandemia por Covid 19, o Bloco de Esquerda reiterou a sua luta em defesa desse instrumento municipal, apelando à responsabilidade do executivo perante o agravamento da crise social e económica. Porém, nada resultou. Nunca foi demonstrada nem coragem nem vontade política para levar a cabo esta ou outras iniciativas que visavam proteger os cidadãos mais vulneráveis, particularmente idosos com poucos recursos económicos. Nunca, até agora. Na verdade, foi necessário chegar ao final do mandato para que, inesperadamente, o ato de generosidade do executivo socialista fosse, finalmente, uma realidade.

Aliás, a poucos meses das eleições autárquicas é notória a súbita preocupação desses dirigentes pelas questões sociais. Sem qualquer tipo de pudor é visível nos meios de comunicação social o interesse em manterem, a todo o custo, os cargos políticos detidos, há décadas, por essa grande família PS quer na Câmara quer nas empresas municipais. Vícios de um concelho gerido, há 45 anos, por socialistas, ou independentes ex-socialistas, ou independentes que voltaram, novamente, a ser socialistas. O que importa verdadeiramente é nunca perderem a rede de clientes e privilégios construída neste município ao longo desses anos. E, por isso, vale tudo, incluindo a súbita preocupação com o acesso a um tarifário social para os mais carenciados, mas só agora, precisamente a poucos meses das próximas eleições. Uma mera coincidência.

Estas e outras ações de marketing têm sido reveladas, paulatinamente, por este executivo numa estratégia de pré-campanha eleitoral eticamente deplorável ante a crise pandémica que todos vivemos. É o caso, por exemplo, da recente distribuição de 90 000 exemplares de propaganda política do Partido Socialista, pagos com dinheiro da autarquia, isto é, com milhares de euros dos contribuintes, numa completa desconsideração pela miséria, fome e desemprego que atinge, atualmente, muitas famílias em Matosinhos. E tudo isto com um único objetivo: continuar a alimentar a máquina partidária, mantendo todo e qualquer cargo político, e respetivas cadeiras de poder, num evidente desrespeito pelos dinheiros públicos.

Dizemos, indubitavelmente, sim, à implementação da tarifa social da água em Matosinhos. Dizemos, em absoluto, não, às ações de campanha disfarçadas de grande generosidade em vésperas de um ato eleitoral. Porque, embora, às vezes, até possa parecer, as cidades não se fazem de pessoas ignorantes e desinformadas, mas de gente que vai fechando os olhos por uma questão de comodidade ou de conforto... até um dia.