
O Bloco de Esquerda de Matosinhos vem defendendo a necessidade de desenvolver as indústrias ligadas ao mar, para além das pescas e das conservas, que foram a génese da própria comunidade matosinhense.
Incluem-se neste campo todas as envolventes dos transportes marítimos, das reparações náuticas, os desportos e o lazer, não esquecendo as decorrentes da investigação científica.
Não basta enviar para as escolas novos mapas que consagram muitos milhares de quilómetros de mar integrantes do território nacional. É necessário desencadear e apoiar iniciativas que promovam a exploração racional e sustentada desse enorme potencial de emprego e desenvolvimento económico.
É por isso que o BE considera muito estranho o facto de o governo ter de devolver à União Europeia milhões de euros de fundos concedidos para apoio às pescas e que não foram utilizados atempadamente. Esta negligência está em linha com a falta de capacidade de demonstrar firmeza na defesa dos interesses das pescas nacionais.
O que se constata na realidade é que os pescadores portugueses têm condições de trabalho e de remuneração muito mais duras que os restantes trabalhadores das pescas na Europa.
Nos anos noventa do século passado, durante os governos de Cavaco Silva, os armadores receberam fundos comunitários para abater os seus barcos, optando muitos por abandonar a sua actividade.
As pessoas recordam-se do que então se dizia que era necessário modernizar a vida da sociedade portuguesa, isto é passar a adquirir no estrangeiro o que se deixou de produzir em Portugal, pagando essas compras com os fundos que a Europa nos enviava para falsamente desenvolver a economia.
O mesmo aconteceu com a agricultura e a indústria portuguesas. Desapareceram a grande maioria das fábricas de conservas de peixe, muitas delas instaladas em Matosinhos e que davam saída aos produtos da pesca. Enquanto isso os pescadores tiveram que procurar trabalho noutros portos e até no estrangeiro, levando o mercado português à importação de pescado.
Era assim que então se propagandeava o dito “progresso”.
O que restou foram instalações industriais abandonadas e em ruínas, suscitando a cobiça dos especuladores imobiliários, enquanto os pescadores que se mantiveram na arte, optaram por pequenos barcos de pesca artesanal, que apenas lhes garantem reduzidos rendimentos e uma enorme insegurança no mar.
Infelizmente na Politica Comum das Pescas, imposta pela Europa, continua a imperar o pilar económico em claro detrimento dos pilares social e ambiental.
Com o agravar da crise e o desemprego que grassa são necessárias condições para a criação de emprego e o desenvolvimento das indústrias ligadas ao mar, que constituem uma possibilidade não negligenciável, utilizando de forma criteriosa as 200 milhas da zona económica exclusiva para as pescas e para a investigação cientifica.
Impõe-se, por isso, estudar a situação e em conjunto com todos os interessados, planear e lançar as bases para uma exploração sustentável dadas as condições óptimas que possuímos, contribuindo para ultrapassar a crise e melhorando a qualidade de vida dos matosinhenses.
O Bloco de Esquerda de Matosinhos manifesta a sua disponibilidade para contribuir nesse esforço de retomar no nosso concelho as tradições de ligação ao mar e às suas enormes potencialidades.