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Mais de um quinto do aumento da dívida pública em 2012 deve-se à recessão

Foto de Paulete Matos

Desde a intervenção da troika, o rácio da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) agravou-se em 39,6%.

Em 2012, mais de um quinto do aumento da dívida face ao PIB explica-se pela recessão, segundo os dados enviado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) ao Eurostat, na notificação sobre “procedimentos por défices excessivos”.

Os dados enviados pelo INE demonstram o impacto negativo que as medidas de austeridade estão a ter na economia e na subida da dívida pública. No ano que passou, a dívida pública cresceu 15,3%, fixando-se nos 123,6% em relação ao PIB.

O que representa, segundo o Diário Económico, um agravamento de 24,9 mil milhões de euros. Desse valor, 19,2 mil milhões de euros estão relacionados com o aumento do volume da dívida pública e os restantes 5,7 mil milhões de euros devem-se à quebra do PIB. Relembre-se que Portugal sofreu uma recessão na ordem dos 3,3% em 2012, segundo os mais recentes dados do INE.

O “Diário Económico” relembra que desde a primeira versão do memorando da troika, o executivo português e os representantes da troika já reviram em alta o rácio da dívida em 11%, sendo que a esmagadora maioria da revisão se prende com a recessão e a ajuda aos bancos.

O atual governador do Banco de Portugal, num discurso proferido na SEDES, disse que “cerca de 3 pontos percentuais deste desvio são explicados pelo efeito direto da evolução desfavorável do que o previsto do PIB nominal e mais de 6 pontos percentuais resultam de um conjunto de operações com impacto direto na dívida pública”.

A notificação do INE relata ainda que as ajudas à banca nacional tiveram um impacto de 6,2 mil milhões de euros na dívida pública e que os empréstimos contraídos pelo Estado português - onde se incluem as transferências da troika – contribuíram para o crescimento da dívida em 1,2 mil milhões de euros. O valor deste aumento não é superior porque a Segurança Social comprou títulos do Estado no valor de 1,387,5 milhões.

Num estudo publicado no mês de Março por dois economistas do FMI – Anke Wede e Luc Eyraud – que aborda as dificuldades de reduzir a dívida em países intervencionados, conclui-se que a austeridade pode “acabar por ter um efeito de agravamento da dívida pública num horizonte que pode ir até cinco ou seis anos”.